San Blas é um arquipélago de 365 ilhas localizadas no Mar do Caribe, a cerca de 100 quilômetros da Cidade do Panamá, sendo que apenas 50 delas são habitadas.
As ilhas do arquipélago são conhecidas por suas praias de areia branca, águas cristalinas e recifes de coral. Em resumo: são um ótimo lugar para relaxar e aproveitar a natureza.
E uma curiosidade: Na série La Casa de Papel, os personagens Rio e Tokyo escolhem uma das ilhas para se esconder após a fuga da Casa da Moeda.
Os Gunas
As ilhas de San Blas são um território indígena autônomo, administrado pelo povo Guna - um dos grupos indígenas mais numerosos do Panamá, com uma população estimada em 62.000 pessoas.
A palavra "Guna" significa "povo da terra" ou "povo da montanha". Eles são organizados em comunidades chamadas "yalas".
Eles falam uma língua própria, chamada Guna Yala, e muitos não têm uma segunda língua, nem mesmo o básico de espanhol. Os Guna são um povo orgulhoso de sua cultura e tradições. Eles são conhecidos por sua arte, música e artesanato.
Por ser um território autônomo você precisará do seu passaporte para entrar nas terras indígenas.
Como chegar à San Blas
Pensa numa tarefa complicada! Chegar em San Blas é chatinho, por isso recomendo que você contrate tudo com uma agência. E mesmo assim, não será fácil. Nós contratamos uma agência e vou passar todos os detalhes abaixo.
Considerando que você já esteja na Cidade do Panamá, você terá que fazer um trajeto de carro de aproximadamente 2h30 até a costa do Caribe. A estrada é sinuosa, com bastante subidas e descidas. Ouvi vários relatos que era muito complicado ir sozinho, e que precisava de carro 4x4, mas durante o percurso nós achamos que daria para ir sozinho com carro tradicional. Inclusive boa parte do trajeto é asfaltado. O problema é que não existe sinalização e o Google Maps não funciona na área administrada pelos Gunas. Então, ir sozinho é complicado por isso.
Como contratamos uma agência, eles nos pegaram no hotel por volta das 5h da manhã. No carro, além do motorista, estávamos em 6 turistas. No meio do trajeto até a costa, o motorista fez uma parada numa lanchonete para usarmos o banheiro, fazer um lanche e comprar algum itens que quiséssemos levar para a ilha. Esse transfer custou US$ 50,00 por pessoa (ida e volta), e mesmo estando no pacote da agência, foi pago diretamente para o motorista em dinheiro.
Logo após esta parada, a rodovia sai da área urbana e entra no território indígena. Neste ponto o motorista irá pedir o seu passaporte para fazer o registro da entrada na reserva, e também será necessário pagar uma taxa de US$ 22,00 por pessoa (pago apenas em dinheiro). É nesse ponto que a estrada começa a ficar mais sinuosa.
Chegando ao litoral do Caribe, existem dois portos. Dependendo da ilha que você for se hospedar, terá que ir para um, ou para o outro. Na minha opinião, essa é parte mais complicada. Mesmo tendo fechado todo o pacote com a agência, me pareceu que cada um faz apenas a sua parte - o motorista nos levou até o porto correspondente da nossa ilha e falou: "aguardem o barco X, com o motorista Fulano", e foi embora. Ficamos quase uma hora esperando o nosso barco. Nesse meio tempo diversos barcos chegaram e saíram e tínhamos que perguntar se era o nosso. O local lá é bem precário e sujo. E para piorar choveu enquanto estávamos esperando.
No nosso pacote de hospedagem já estava incluso o valor do barco, mas caso não esteja, o valor varia de US$ 10 a US$ 20, dependendo da distância até a ilha.
O trajeto de lancha, no nosso caso, demorou aproximadamente 30 minutos. O barco balança bastante e molha muito. Então, o ideal é que a sua bagagem esteja dentro de um saco plástico e que você utilize uma roupa que possa molhar.
Leve para ilha apenas o necessário para o tempo que você for ficar por lá, pois o barco irá aportar na praia, você terá que sair do barco dentro da água, e uma mala muito grande poderá dificultar a tarefa.
Para o retorno, normalmente os barcos saem às 7h ou às 15h da ilha em direção ao porto. E todo o processo irá se repetir (ao contrário)... 30 minutos de barco, chegando no porto você irá esperar o motorista, depois fará o trajeto de 2h30 até a Cidade do Panamá.
Complicado, né? Por já saber o transtorno que seria, decidimos contratar a agência. E mesmo assim a chegada no porto foi estressante, pois ficamos durante um período sozinhos.
Dica: se você optar por fazer o trajeto sozinho, pegue com antecedência todas informações como nome da ilha, qual porto você deve ir, nome do barco e o responsável. Na área dos portos, o sinal de internet é ruim, e você provavelmente não conseguirá se comunicar.
Quantos dias ficar?
Existem passeios de um dia saindo e voltando da Cidade do Panamá. Você leu o relato acima de como é difícil chegar lá? Então, já deve ter percebido que não vale a pena esse 'bate e volta'. EU NÃO RECOMENDO!
A próxima opção é ficar uma noite. Pode ser uma boa escolha se você tiver muita vontade de conhecer e estiver com o tempo apertado. Mas, fique atento: você deve chegar da ilha um pouco antes das 12h e no dia seguinte irá sair às 7h da manhã. Ou seja, você vai ficar menos de 24h na ilha.
O que escolhemos, e recomendo, é ficar duas noites na ilha. Você terá tempo pra aproveitar a praia, mergulhar nos corais, fazer um passeio de barco e ainda relaxar um pouco.
Se você, assim como nós, não curte ficar relaxando por muito tempo, não recomendo ficar mais que duas noites. Lembre-se: as ilhas são pequenas e não tem muita coisa pra fazer. A infraestrutura da maior parte das ilhas é bem básica (como conto mais abaixo) e você começa a se incomodar de ficar muito tempo passando perrengue.
O que levar?
. Roupas de banho
. Roupas leves
. Um casaco fino para as noites
. Protetor solar, boné e óculos de sol
. Chinelo - você não precisará de outro tipo de calçado
. Itens de higiene
. Toalha de banho - na ilha que ficamos ele não ofereceram
. Power bank - nosso quarto não tinha energia elétrica
. Comidinhas - você provavelmente terá três refeições por dia, mas entre elas terá pouca ou nenhuma opção para comprar
. Água - na ilha terá água pra vender, mas eu tenho sempre medo de faltar, então levamos um galão de cinco litros.
Qual ilha escolher em San Blas?
A primeira coisa a saber é que as ilhas muitas vezes têm mais de um nome, o que complica bastante a sua pesquisa, e deixa tudo confuso.
As mais belas e famosas ilhas estão localizadas na porção noroeste, próximo ao Porto de Cartí. A porção sudeste, onde estão as regiões de Playón Chico, Achutupo e Corazón de Jesús, apesar de serem riquíssimas quando se trata da cultura dos Kunas, não é tão bem servida de ilhas com belas praias. Vou compartilhar as informações que pesquisei em diversos sites:
. Isla Diablo (Naidup) – tem uma praia bonita, com areia branca, mar de vários tons de azul, com corais e vida marinha abundante. A ilha não é muito pequena. Energia elétrica apenas no refeitório em horários específicos.
. Isla Wailidup - ilha pequena que tem 10 cabanas sobre a água. A praia também é pequena, mas com areia e água bem clarinha. Energia elétrica nos quartos das 18h às 3h.
. Isla Perro (Achudub ou Perro Chico) – a mais famosa e oferece mais atrativos: praia, restaurante e barco afundado com corais – bom local para snorkeling. Porém, é uma das mais movimentadas, principalmente nos finais de semana. Faz parte da maioria dos pacotes de passeio de um dia. Ela é bem cuidada, tem muitos coqueiros. Carregador de celular durante todo o dia.
. Isla Perro Grande – mais calma e muito bonita. Não faz parte dos roteiros tradicionais.
. Isla Fragata (Banedub) – duas pequenas ilhas onde não é possível se hospedar. Tem redes penduradas dentro da água pra você deitar e restaurante sobre o mar.
. Isla Pelicano – uma ilha bem pequena, sem hospedagem, mas tem restaurante.
. Cayos Holandeses – conjunto de ilhas incríveis, com poucos visitantes. Bom local para snorkeling, observação de arraias e pequenos tubarões. Na volta do passeio é possível passar pela Isla Estrellas. É preciso que o mar esteja em boas condições. A viagem de barco dura aproximadamente 1h partindo das ilhas de San Blas.
. Playa de las Estrellas – banco de areia formado no meio do mar, com várias estrelas.
. Isla Aguja (Icodub) – a mais próxima do continente (10min), com uma das melhores infraestruturas: restaurante e cabanas, porém, com maior número de pessoas. As cabanas são tão simples quanto as das demais ilhas.
. Isla Chichimè (Weindup) – mais calma e muito bonita, vários tons de azul. Não faz parte dos roteiros tradicionais. É uma das maiores, uma volta a ilha pode demorar 20 minutos. E em frente à ilha ficam ancorados vários barcos que fazem festa à noite.
. Isla Tubisenika – É uma das preferidas dos visitantes, pois fica afastada da movimentação das Ilhas Perro e Aguja. Não fica na rotas dos passeios, apenas os hospedes vão lá. A praia é linda, com piscina natural e coqueiros. Uma volta ao redor da ilha leva aproximadamente 10 minutos. É dividida por duas famílias e cada uma tem um hotel: Cabanas de Isla Franklin e Cabanas Senidup.
O lado das Cabanas Senidup é mais agitado, festeiro, inclusive com mini festas à noite e tem iluminação 24h, porém, as cabanas não são voltadas para o mar.
As cabanas de Isla Franklin são voltadas para o mar. Todas as cabanas são de bambu e palha. Há cabanas privadas e coletivas. O chão é de areia, Não tem iluminação 24h.
. Isla Coco Blanco (Ogobsibudup) – hospedagem razoável com um pouco mais de conforto e praia linda. Tem apenas 8 cabanas de palha, com banheiro privativo, água doce e luz elétrica. A praia é pequena e a ilha não recebe passeios, apenas hóspedes. Oferece passeios gratuitos para outras ilhas, entre elas Perro Chico (Perro), Perro Grande (Perro 2), Chichimè e Piscina de las Estrellas (o banco de areia com estrelas do mar). A ilha fica a 30min do Porto de Cartí.
. Isla Iguana (Aridup) – hospedagem razoável com cabanas reformadas de madeira, voltadas para o mar. A ilha é pequena.
. Isla Achudup (Perro 2) – Cabañas Demar – umas das hospedagens mais novas. Cabanas de palha e bambu, energia elétrica, com banheiros melhores. Além da incrível praia, com acesso a outra ilha deserta bem pertinho, oferece passeios para a Isla Estrella e Cayos Holandeses. Banheiro compartilhado.
. Isla Guanidup (Kuanidup) – Oferece lindo visual, praia calma, boa faixa de areia e doze cabanas de frente para o mar. Cabanas com banheiros compartilhados. Eletricidade limitada.
. Isla Narasgandup - Robinson, Ina e Narasgandup – uma das maiores ilhas, com 3 tipos diferentes de hospedagem: Cabañas Robinson; Cabañas Ina; e Cabañas Narasgandup. As duas primeiras são mais simples.
A ilha que escolhemos em San Blas
Muito da sua experiência em San Blas irá depender da ilha que você escolher. Nós optamos pela Isla Gorginega. Ao escolher uma ilha, você já escolhe o tipo de hospedagem, pois cada ilha em geral tem apenas um "hotel".
Antes de escolher a ilha, avalie as acomodações, pois existem desde opções bem simples, como camping e quartos coletivos, até quartos individuais com banheiro compartilhado e quartos com banheiro privativo. Há ainda a opção de conhecer San Blas de veleiro, mas o custo é bem mais alto.
Em algumas ilhas você encontrará apenas um tipo de hospedagem, mas é mais comum que cada ilha ofereça pelo menos duas opções. Mas, mesmo nas hospedagens melhores, no geral as instalações são simples, e isso é um pouco da 'graça' de se hospedar por lá. Afinal, se você quisesse luxo, iria para um resort em Cancun.
Na Isla Gorginega, também chamada de Isla Pelicano, tinha as seguintes opções:
. Quartos coletivo - uma grande casa, com paredes feitas de bamboo e vários beliches. O chão era de areia e o banheiro coletivo.
. Cabanas privativas - com paredes e chão de madeira, cama de casal, banheiro coletivo. Possuem energia elétrica.
. Cabanas privativas frente mar - com paredes de bamboo e piso de madeira. Essas cabanas possuem banheiro privativo, mas com um custo extra para utilização. Comportam até 5 pessoas. Não possuíam energia elétrica quando a visitamos, mas já estavam passando a fiação para instalar. Tinha uma pequena varanda com vista para o mar. Mas, confesso que não é um grande diferencial, pois a ilha é tão pequena que você consegue ver o mar de praticamente todos os lugares.
A roupa de cama do nosso quarto até que estava cheirosa, mas como as paredes eram de bamboo a maresia impregnava tudo, incluindo a roupa de cama, que parecia um pouco melada.
San Blas foi minha primeira experiência usando banheiro coletivo, então não tenho parâmetros para comparação. Em boa parte do dia o banheiro era limpo. Mas, durante a noite não tinha ninguém limpando, então de manhã o banheiro estava bem sujinho.
As instalações eram muito simples, principalmente nos chuveiros, que tinha um bamboo servindo como cano e um côco furado como chuveiro. A pior parte é que não tem água doce para tomar banho. Isso mesmo, você toma banho em água salobra. Lembra aqueles cinco litros de água que eu falei que levamos? Acabamos usando boa parte para tomar banho, pois é impossível ficar com a água salgada no corpo durante duas noites.
Alimentação
Nas hospedagens está incluso três refeições: café da manhã, almoço e janta. A comida é relativamente simples, servida em prato único, mas não ficamos com fome em nenhuma das refeições. Todas as refeições tem horário determinado, sendo que o responsável pela ilha avisava na refeição anterior.
Eu sugiro que você leve alguns itens para complementar a alimentação, alguns lanchinhos durante um dia - bolachas, salgadinhos..., nada que precise de refrigeração.
No café da manhã eles tinha um tipo de fruta, café (sem leite), geleia, creme de avelã, ovo mexido ou uma fatia de queijo e de carboidrato uma espécie de pão frito. Tínhamos levado pasta de amendoim e acabamos compartilhando com o restante dos hóspedes.
No almoço e jantar era servido um 'prato feito' com arroz, uma proteína frita e plátanos fritos. Você podia escolher entre peixe e frango. No jantar a porção de proteína era menor. Em um das refeições eles ofereceram a opção de um macarrão com frutos do mar misto, que um dos trabalhadores da ilha tinha pescado no dia.
No almoço e jantar eles forneciam uma garrafa de água de 500ml, que nem sempre estava gelada. E você podia comprar refrigerantes e cerveja.
Atrações e Passeios
As ilhas são realmente bem pequenas, você leva menos de 10 minutos para circular por toda ela a pé. Então, não existem muitas atividades pra fazer. O lugar é realmente bom para relaxar.
Na ilha que ficamos tinha uma rede para jogar voleibol, stand-up paddle (mas não era permitido ir muito longe) e máscara e snorkels para apreciar os corais e os peixinhos que circulam a ilha. O Daniel conseguiu participar de um jogo despretensioso de vôlei com um grupo europeu e ajudou a passar um tempo.
O passeio de stand-up ao redor da ilha não levou mais do que 20 minutos.
Já o mergulho de snorkel pode entretê-lo por um bom tempo, principalmente se você gostar de ver peixinhos e lindos corais.
Um dos pontos altos da sua visita a San Blas será o pôr-do-sol, então aproveite-o todos os dias que estiver por lá.
Mas, mesmo assim, se você, assim como eu e o Daniel, não gosta de ficar muito tempo relaxando, o ideal é contratar algum passeio. Contratar os passeios na ilha não é muito barato; o valor para Cayos Holandeses, por exemplo, era de US$ 35 por pessoa. Mas já que você foi até lá, pode ser interessante investir no passeio extra.
No pacote que contratamos estava incluso visitar uma piscina natural e uma segunda ilha. No dia do passeio, o responsável pela nossa ilha insistiu que o mar não estava bom e nos levou apenas para as piscinas naturais. Nós ficamos bem decepcionados! O lugar, nada mais é que um banco de areia com água abaixo da cintura. A água é super transparente e a areia branquinha, mas não tem peixes para ver. Então, não tinha muito o que fazer por lá.
Staff
Como falei, as ilhas do arquipélago de San Blas pertencem ao povo Gunas, e pelo que conseguimos entender, é dado o direito para alguns de explorar turisticamente a ilha. O responsável cuida e organiza tudo que acontece na ilha.
Nossa ilha era comandada por um nativo que devia ter entre 50 e 60 anos, bem pequeno (como os demais Gunas), mas linha dura. Chegava a ser caricato. No dia em que chegamos, nos mostrou um papel com todas as regras do lugar, e não eram poucas, desde não ser permitido tomar banho de mar após as refeições, a não poder se afastar muita da ilha nadando ou de stand-up.
Ele decidia o horário das refeições, onde cada turista deveria sentar no refeitório e também foi ele quem cancelou o passeio de barco, segundo ele porque o mar estava muita agitado, o que de forma alguma era o caso, mas foi inútil argumentar.
Ele tinha toda a organização da ilha num caderno, desde quem tinha passeio agendado, quem iria embora no dia seguinte... muito mais organizado que algumas pessoas com planilhas e agendas eletrônicas.
Falava bem espanhol, mas não falava inglês. Quando precisava chamava um outro membro da equipe que falava um pouco de inglês pra tentar explicar o planejamento para os turistas, que em sua grande maioria eram europeus.
Todos os que trabalhavam na ilha eram de origem Guna, e alguns nem Espanhol falavam, o que dificultava a comunicação em vários momentos. Por exemplo: as duas jovens que serviam as mesas só falavam na língua nativas delas, e por muitas vezes entregavam a comida errada para os hóspedes. O que é uma pena, pois não conseguimos conversar com eles, pra entender um pouco mais sobre a cultura.
Na nossa opinião a experiência valeu a pena. Mas,....
. Não recomendamos para qualquer pessoa, pois realmente falta conforto em toda a experiência, seja no transporte, na hospedagem e alimentação;
. Não voltaremos. Valeu como uma experiência, mas existem lugares tão bonitos quanto, mas muito mais acessíveis.
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